sábado, 15 de novembro de 2008

Início

O primeiro som foi quase inaudível, parecia longe, muito longe daquele sonho bom. Adentrou pelos ouvidos e ecoou lá dentro. De repente, da mesma maneira que surgiu, se foi. Silêncio. Ah, novamente o velho e bom silêncio que você merece depois de horas difíceis.
Mas era insistente o tal sonzinho... E de repente pareceu mais alto também, mais freqüente. Era um som estridente, sabe? Tinha um quê de sirene policial... Ou será que tava mais pra um ranger de porta velha? Vai ver que era isso mesmo. Algum policial voltando de uma ronda extensa e cansativa, fazendo uma gracinha só pra chegar um pouco mais rápido em casa. Ou talvez tenha sido só o bichano que, querendo entrar, arranhou a porta do quarto, que foi se abrindo beeem lentamente, rangendo feito porta de casa velha.
Tento de todas as formas acreditar nisso. É o policial ou o gato, o gato ou o policial. Se eu acreditar com bastante força se torna real. Vai ser isso. Tem que ser isso.
E me ocorre então que seja outra coisa. Não, não pode ser. O tempo não pode ter passado tão rápido. Mas... É, talvez seja mesmo isso... Remexo um pouco, tento me esconder do barulhinho incessante. Ele não vai parar. Agora já sei que não vai. Tudo de novo, do início. Banho rápido, café magrinho, sair atrasada, engarrafamento, chegar mais atrasada ainda, e aí ouvir... Ouvir do chefe, da amiga magoada, do amigo que só você sabe que é gay, da mãe, pai, namorado, faxineira, enfim, aquela ladainha de todo santo dia...
Finalmente paro de lutar, e me toco de que que o barulho irritante só durou 10 segundos. É o mesmo barulho que ouço todos os dias pela manhã, desde quando eu tinha... tinha... ah, sei lá quantos anos eu tinha, mas sei que faz bastante tempo. Meu braço recebe o leve impulso vindo do cérebro e se move, na direção do barulho. Pronto. Um toque e o barulho cessa. Desliguei o despertador. E agora, mais do que nunca sei que não posso permanecer aqui no meu canto. Há muito que fazer. Meus pensamentos amargurados de wake up começam a desaparecer. Todas essas coisas que acabaram estragando o dia aconteceram ontem, não hoje. Hoje tudo é novo. Posso começar tudo de novo, quer dizer, praticamente tudo.
Sei que o dia vai ser típico de começo de primavera, ensolarado e sem chuvas. Não me pergunte como sei isso. Eu apenas sei. Já me imagino perto da sacada, um passo de cada vez. Ah, o brilho de um novo dia. O sol vem até a cama e aquece minha pele. Então resolvo dar o passo final em direção àquele novo início. Finalmente abro os olhos. E pode apostar, com os olhos abertos, tudo isso continua ficando cada vez melhor!

Sejam bem vindos, e boa estadia!!